quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

 Universos Paralelos e Livre Arbítrio


Universos paralelos podem parecer criação da mais imaginativa ficção científica, porém são um fato verdadeiro para a grande maioria dos físicos e astrofísicos contemporâneos.

A existência desses universos começou a ser encarada seriamente depois de algumas experiências específicas com as propriedades da luz. Antes dessas experiências, a física quântica já havia demonstrado que os átomos têm uma estranha característica: tanto podem agir como partículas (pequenos pontos) quanto como ondas (pontos em movimento). Esse estranho comportamento atômico recebe o nome de dualidade onda-partícula.

Se essa característica atômica já era surpreendente e intrigante, tudo ficou ainda mais fantástico após as experiências chamadas de "testes de dupla fenda". Nesses testes, um raio de luz foi projetado sobre uma tela, passando antes por outra, onde havia duas fendas. Quando as duas fendas da primeira tela estavam abertas, ocorria algo como se cada elétron estivesse passando pelas duas ao mesmo tempo. Quando uma delas era fechada, algumas áreas da segunda tela recebiam mais luz do que quando ambas estavam abertas, como se a luz "percebesse" que uma das fendas havia sido fechada e mudasse de rumo, dirigindo-se para a fenda aberta, atingindo a segunda tela com maior intensidade nesse lado.

A experiência levou à conclusão de que a luz mudava seu comportamento, escolhendo entre duas possibilidades: duas fendas abertas ou uma fechada. Essa idéia é a coluna vertebral da Teoria dos Universos Paralelos: todas as possibilidades para cada ação existem como um universo alternativo. E como existe um número infinito de possibilidades, também existe um número infinito de universos paralelos, e um número ilimitado de cada um de nós.

Compreender essa lógica é praticamente impossível sem a ajuda da matemática. Mas não se importe com isso. Basta que você aceite, pelo menos enquanto lê esse capítulo, que, por mais inacreditável que possa parecer, existem universos infinitos paralelos para cada possibilidade em nossa vida.

Um dos pontos, por exemplo, em que essa teoria se relaciona com nossa vida é a questão do livre-arbítrio. Há um antiquíssimo debate entre livre-arbítrio e determinismo: podemos mudar nosso destino, ou a vida segue em frente de acordo com um plano pré-formulado?

Imagine que você vá a um desses cinemas com múltiplas salas de exibições simultâneas. Você compra um ingresso, passa pela roleta, vai à lanchonete e compra um saco de pipocas. Entre numa sala e começa a assistir a um filme. Em poucos minutos, percebe que é um filme de que não vai gostar. Sai da sala e entra em outra. Gosta do filme e fica.

O que aconteceu, de acordo com a teoria dos universos paralelos? Você pode ver claramente que seu único livre-arbítrio em toda essa situação foi escolher a qual filme queria assistir. Seu controle sobre os filmes era nenhum. Todos os filmes nas salas de projeção haviam sido previamente escolhidos pela direção do cinema. E, mais ainda, todas as histórias dos filmes haviam sido previamente escritas por roteiristas e filmadas por equipes de diretores, produtores, etc.

De acordo com a teoria dos universos paralelos, a nossa vida é como a situação que você teria vivenciado no cinema. Versões diferentes de sua vida estão transcorrendo ao mesmo tempo. Elas existem nos universos paralelos. Assim como no cinema você não pode mudar o filme a que está assistindo, na vida não pode mudar o filme de que está participando. Mas tem a capacidade de escolher um ou outro filme, um ou outro universo. Desse modo, nossa existência seria um constante escolher e mudar de universos, mesmo a cada pequeno instante do dia-a-dia.

Vejamos outro exemplo hipotético, de uma situação imaginária específica. Imagine que você esteja sentado num banco de um parque e veja, um pouco à sua frente, um passarinho ferido. Você tem a capacidade de escolher o que vai fazer em seguida: apanhar o passarinho para levá-lo a um veterinário; tratar dele você mesmo; chamar um funcionário do parque; simplesmente ignorar o que viu; matá-lo, etc. São numerosas possibilidades, cada uma delas existindo num universo paralelo. Quando você escolhe uma dessas possibilidades está simplesmente escolhendo o universo em que vai atuar nos próximos segundos. Só que você não cria essas possibilidades (como sempre achou, até hoje). Elas já existem. Você apenas escolhe uma delas como seu próximo passo.

Claro que esse exemplo é bastante simples, pois tudo é muito mais complexo. O fato, por exemplo, de estar sentado no banco de um parque já existiu como possibilidade em outro universo paralelo e essa possibilidade foi escolhida por você antes de acontecer. Ver o passarinho também resultou de alguma espécie de escolha do seu "filme", pois você poderia estar no banco mas não ver o passarinho, ou apenas ver um passarinho saudável.

Se mergulharmos demais nessas hipóteses, a sensação é de que nossa própria sanidade mental está ameaçada. É claro que no dia-a-dia tudo isso está acontecendo num nível inconsciente e automático, com todos os nossos equipamentos mentais e volitivos sendo usados para manter o mundo tridimensional em funcionamento e nos permitir a tomada de decisões. Esse é o mistério da vida, a maravilhosa complexidade existente no mundo não depende de um conhecimento aprofundado dessas mecânicas, assim como não precisamos saber como funciona uma máquina de projeção para assistirmos a um filme.

No caso da Teoria dos Universos Paralelos aplicada ao cotidiano, a questão torna-se ainda mais complexa se tentarmos imaginar de que modo conseguimos pular de um universo a outro tantas vezes a cada dia, mudando tantas vezes o roteiro da nossa existência. Qual seria o nosso instrumento para isso e como essa passagem aconteceria? As tentativas científicas para encontrar uma explicação trabalham, hoje, simultaneamente com as ciências chamadas exatas e a psicologia, buscando uma explicação para aspectos da existência que ainda conhecemos pouco, entre elas a consciência e a vontade.

As conquistas do conhecimento exato influenciaram tanto o pensamento humano nas últimas décadas do séc. XX que os conceitos quânticos, nascidos no começo do século e voltados exclusivamente para a física, se espalharam por outras ciências e disciplinas, influenciando áreas como a medicina, a biologia, a psicologia, a neurologia e a filosofia, e prometendo avançar ainda mais no séc. XXI, alterando profundamente nossa vida e o conhecimento dela. Tudo indica que o Homo sapiens esteja se transformando em Homo quanticus, um ser que observa a si mesmo e a todo o Universo de uma forma totalmente nova e muito mais próxima da verdade.

Esses conhecimentos acumulados chegam até nós de forma desordenada e em uma velocidade que não conseguimos administrar. Isso provoca sérias preocupações, principalmente em muitas universidades importantes, que sentem a necessidade urgente de fazer com que os novos conhecimentos sejam um sistema de propulsão do ser humano em direção a uma vida mais plena e feliz, e não um gerador caótico de dúvidas e sentimentos de pequenez. Quando a ciência nos diz que a realidade é governada pela incerteza, ou que o bater de asas de uma borboleta em São Paulo pode afetar o clima em Singapura (como afirma a Teoria do Caos), não devemos perder o controle. Em vez de pular do navio durante a tempestade, devemos saltar para um novo universo. Cada novo universo, dizem algumas interpretações quânticas, representa um filme progressivamente melhor de sua vida. Portanto, elas nos aconselham: pare de tentar mudar o mundo à sua volta. Você não pode fazer isso. Ninguém pode. Porém, você pode mudar de mundo, saltando para um novo universo onde vai encontrar situações e eventos diferentes. A força para saltar de um universo a outro está dentro de cada um. As mudanças externas começam com mudanças internas. O ser humano é muito mais poderoso do que pode imaginar.

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Fonte: O LIVRO DAS REVELAÇÕES, de Eduardo Castor Borgonovi - Editora Alegro


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